O aumento do imposto do
combustível poderá gerar um aumento de até 4% no preço do frete, segundo
estimativa da Agência Nacional de Transporte de Cargas (ANTC), entidade que
atua no ramo de consultoria em agenciamento de cargas. Na ponta, segundo
análise da entidade, o reajuste poderá encarecer principalmente produtos com
menor valor agregado, como arroz, farinha e outros produtos da cesta básica.
Além disso, os produtos ficarão mais caros no Norte e Nordeste, regiões mais
distantes dos polos produtores no Sul e Sudeste.
"O
quanto do frete será repassado ao produto vai depender do peso do frete no
produto. Tem produto que não representa nada. Mas têm situações piores, nas
quais o frete pesa, quando o valor do produto é baixo, como na cesta básica com
arroz, feijão, farinha. O preço do frete nesses produtos é alto", disse o
assessor técnico da ANTC Lauro Valdívia. "As distâncias maiores também são
mais impactadas pelo frete".
O
transporte terrestre predomina no Brasil, 60% das mercadorias são transportadas
por caminhões no país. Nas cidades, essa porcentagem aumenta para 95%, segundo
a ANTC. De acordo com a entidade, o combustível representa 40% do custo de um
frete e o aumento geralmente é repassado para o preço do transporte. "O
transportador não tem como não repassar esses 4%. Está sem margem nenhuma. O
frete cai desde 2014. Mesmo na época boa, a margem [de lucro] era de 5%, fica
difícil segurar", disse.
Além
do mercado interno, o aumento poderá ter impacto também no mercado externo. Os
caminhões que transportam carga para a exportação são maiores e o combustível
ultrapassa a média de 40% no custo do frete. Nas cidades, a porcentagem cai, e
o combustível de pequenos caminhões chega a representar 10% do custo.
Com
dificuldades em recuperar a arrecadação, o governo decidiu aumentar tributos
para arrecadar R$ 10,4 bilhões e cumprir a meta fiscal de déficit primário de
R$ 139 bilhões. O Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre a gasolina, o diesel e o
etanol subiu para compensar as dificuldades fiscais.
A
alíquota passou de R$ 0,3816 para R$ 0,7925 para o litro da gasolina e de R$
0,2480 para R$ 0,4615 para o diesel nas refinarias. Para o litro do etanol, a
alíquota passou de R$ 0,12 para R$ 0,1309 para o produtor. Para o distribuidor,
a alíquota, atualmente zerada, aumentará para R$ 0,1964. A medida entrará em
vigor imediatamente por meio de decreto publicado no Diário Oficial da
União.
Para
o porta-voz da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), Bolívar Lopes,
o aumento resultará em uma reação em cadeia. "A Abcam reconhece as
dificuldades que o país atravessa. No entanto, o aumento de combustíveis nesse
momento levará a encarecimento de muitos produtos para o consumidor final. O
transportador também é consumidor final, para o caminhoneiro vai aumentar
diesel, pneus, manutenção do veículo e outros insumos", disse.
Segundo
ele, o preço dos fretes, que já estavam abaixo dos custos atuais, ainda deve
demorar um pouco para ser reajustado, uma vez que os transportadores não querem
perder clientes. "Em certas situações haverá um impacto imediato. Em
outras, esse impacto será a médio e longo prazo. Nesse momento, as negociações
[entre caminhoneiros e clientes] vão ser muito importantes. Os contratos em
andamento serão vistos com cautela".
Um
dos impactos, quando o preço começar a ser repassado, de acordo com Lopes, será
a redução do volume de mercadoria transportada. "O setor recebeu esse
aumento com preocupação. Vínhamos pleiteando a desoneração do diesel justamente
para equilibrar o valor do frete, que está abaixo da realidade".
Ag. Brasil
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