Pelo menos 5,6 milhões de brasileiras não costumam ir ao
ginecologista-obstetra, 4 milhões nunca procuraram atendimento com esse
profissional e outras 16,2 milhões não passam por consulta há mais de um ano,
indicou uma pesquisa da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (Febrasgo) em parceria com o Datafolha, divulgada hoje (12).
Segundo a pesquisa Expectativa
da Mulher Brasileira Sobre Sua Vida Sexual e Reprodutiva: As Relações dos
Ginecologistas e Obstetras Com Suas Pacientes, o resultado mostra que 20%
das mulheres com mais de 16 anos correm o risco de ter um problema sem ao menos
imaginar. Foram entrevistadas 1.089 mulheres de 16 anos ou mais de todas as
classes sociais, em todo o país.
Entre as mulheres que já foram ao ginecologista, seis a cada dez (58%)
são atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto 20% passam pelo
médico particular e outras 20% têm plano de saúde. Quando questionadas sobre
qual especialidade médica é a mais importante para saúde da mulher, 68% citam a
ginecologia, principalmente por mulheres que usam atendimento particular ou
convênio. Em seguida, mencionam clínica geral e cardiologia.
"Sete em cada dez mulheres têm o ginecologista como seu médico de
atenção para cuidar da especialidade e para cuidar da saúde de um modo geral.
Não é diferente em outros países. É como se a ginecologia fosse a porta de
entrada da mulher para a assistência básica de saúde. É muito comum a mulher
que tem problemas que não são propriamente ginecológicos marcar consulta com o
ginecologista e ele encaminhar para outro especialista", explicou o
presidente da Febrasgo, César Eduardo Fernandes.
O levantamento mostra ainda que nove de cada dez brasileiras costumam ir
ao ginecologista - principalmente as que utilizam atendimento particular e
convênio. Metade delas vai ao médico, sendo metade uma vez ao ano. Já 2% não
têm frequência definida, 5% nunca foram e 8% não costumam ir.
Quando se trata do acesso ao ginecologista entre aquelas que já passaram
por consulta, a média da idade para a primeira vez é de 20 anos e os motivos
foram a necessidade de esclarecer algum problema ginecológico (20%), a gravidez
ou a suspeita dela (19%) e a prevenção (54%). Normalmente quem as motivou a
procurar o médico foram mulheres próximas (57%), a mãe (44%) ou mesmo a
iniciativa própria (24%).
"Nós entendemos que a razão da primeira consulta não deveria ser
por problemas ginecológicos ou gravidez. Acredito que falta da parte dos
educadores e dos médicos esclarecer que a mulher deve ir na primeira consulta
assim que iniciar seu período de vida menstrual ou até antes disso para
entender quais são os eventos de amadurecimento puberal que ela tem para que
possa ter noção de como deverá ser a sua habitualidade menstrual, para receber
orientação sobre doenças sexualmente transmissíveis, iniciação sexual, métodos
contraceptivos", ressaltou Fernandes.
De acordo com as informações da pesquisa, entre aquelas que não costuma
ir ao ginecologista, as razões mais alegadas são ‘não preciso ir, pois estou
saudável (31%)’ e ‘não considero importante ou necessário ir ao ginecologista
(22%)’. Há ainda aquelas que dizem não ter acesso ao médico ginecologista ou
não haver esse especialista na localidade onde residem (12%), ter vergonha
(11%), ou não ter tempo (8%).
Relação médico-paciente
Todas as brasileiras entrevistadas (98%) consideram importante que o
ginecologista dê acolhimento, realize exames clínicos, dê atenção, aconselhe,
passe confiança e forneça informações claras. Nove em cada dez dizem estar
satisfeitas com esses atributos em seus médicos.
"Esse é o dado que mais nos envaidece. Os números são extremamente
favoráveis à atenção dos ginecologistas. Essa é uma especialidade que precisa
ser resgatada, porque ela é fundamental para a boa assistência à mulher. Claro
que há especialistas que merecem condenação, mas essa não é a realidade da
maioria dos ginecologistas e obstetras", disse o presidente das Febrasgo.
Em uma situação de parto, 89% declararam que se sentiriam seguras com a
assistência de um ginecologista/obstetra, percentual que cai para 54% se o
atendimento fosse feito por um plantonista, 49% se fosse uma doula, 43% se
fosse uma enfermeira e 42% caso o parto fosse acompanhado por uma parteira.
"Existe uma confusão conceitual por parte das pessoas, especialmente
da mulher, com relação ao que é uma boa assistência ao parto. Então, ela pede à
doula, que não é profissional de saúde, apesar de ser importante para oferecer
suporte emocional e físico. Mas a doula não pode fazer o parto. Quem pode fazer
o parto é uma enfermeira com formação obstétrica, desde que acompanhada por um
médico", disse Fernandes.
Interrupção da gravidez
A pesquisa mostrou ainda que sete a cada dez brasileiras acreditam que a
decisão sobre a interrupção da gravidez cabe somente à mulher. Outras 25%
disseram que a questão deve ser decidida pelas leis da sociedade. A Febrasgo
destacou que não é nem contra nem a favor do aborto, mas luta pela
descriminalização.
"Nós entendemos que essa é uma decisão da mulher. E isso está
alinhado ao que 70% das mulheres pensam. Nossa legislação é da década de 40 e
manda prender a mulher que faz o aborto e qualquer pessoa envolvida em ajudar
essa mulher", lembrou o presidente da Febrasgo.
Segundo Fernandes, a orientação da entidade é a de que os médicos não
soneguem a informação e orientação sobre os prós e contras no momento em que
forem indagados pela paciente que manifestar desejo bem discutido. "Mas a
decisão não nos cabe e nem devemos induzi-la a tomar uma ou outra decisão. O
problema começa quando ela nos pergunta para onde a encaminhamos porque não
temos para onde encaminhar".