A nova tecnologia de diagnóstico rápido da dengue, que poderá reduzir o tempo de análise de amostras de três dias para até 20 minutos, está sendo desenvolvida pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais (Hemominas). Se validado, o teste rápido da dengue deverá ser disponibilizado em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) do país até 2013.
Para validação, a nova metodologia precisa passar por testes que garantam sua assertividade. De acordo com a coordenadora da pesquisa, chefe do Serviço de Biotecnologia e Saúde da Funed, Alzira Batista Cecilio, os resultados obtidos serão confrontados com um diagnóstico já estabelecido. “Este será um momento importante para atestar a precisão do resultado obtido por meio do teste rápido”. A previsão é que esse processo seja realizado a partir do próximo ano, tão logo seja concluída a fase de testes de pesquisa em laboratório.
A praticidade e aparência do novo kit fazem lembrar os aparelhos de monitoramento de glicemia, usado no diagnóstico de diabetes. A diferença é que o sangue coletado do paciente não é aplicado diretamente no kit diagnóstico. O teste é realizado com o soro separado das células sanguíneas e, por isso, a metodologia ainda exigirá a coleta de sangue do paciente.
Para análise, o soro é colocado sobre a membrana - que integra a parte interna do suporte plástico que compõe o kit -, juntamente com o diluente. A reação, que pode indicar a presença de proteínas do vírus da dengue ou anticorpos produzidos, ocorre em 20 minutos.
Atualmente, os testes de diagnóstico da dengue são realizados a partir dos métodos MacELISA e ELISA comercial, que se diferenciam principalmente pelo processo e tempo decorrido entre a análise do soro e o diagnóstico.
“No primeiro método, temos que desenvolver os reagentes, montar toda a plataforma de análise do soro em laboratório, procedimento que demanda três dias de trabalho”, explica o chefe do Serviço de Virologia e Riquetsioses, Glauco de Carvalho Pereira. Já o ELISA Comercial, segundo Glauco Pereira, por se constituir em um kit pronto, garante a economia de tempo, reduzindo todo o processo de análise do soro para aproximadamente cinco horas. No entanto, a metodologia MacELISA é considerada o padrão ouro do Ministério da Saúde no diagnóstico de dengue, sendo a técnica mais sensível utilizada atualmente, com maior índice de assertividade.
Casos notificados
Em 2010, com a epidemia de dengue identificada em diversos estados do país, Minas Gerais chegou a contabilizar 261.945 notificações de suspeita de infecção do vírus. Neste período, a Funed realizou 22 mil análises de amostras. Em 2011, houve tanto queda no número de notificações da doença quanto no volume de análises realizadas pela Funed, sendo verificadas em torno de 5 mil amostras. “Essas amostras foram testadas em uma ou ambas as metodologias (MacELISA e ELISA Comercial), muitas vezes em duplicata”, destaca a farmacêutica bioquímica Maira Alves Pereira, do Laboratório de Dengue e Febre Amarela da Funed.
Segundo Maíra, as análises feitas na Funed têm como objetivo detectar se há epidemia de dengue em certa região e assim contribuir para o trabalho de vigilância epidemiológica do Estado. “Por este motivo, o número de análises não precisa ser proporcional ao volume de notificações. Os testes laboratoriais são feitos para identificar a epidemia e auxiliar o governo nas ações a serem tomadas, mas o médico, com exames clínicos, é capaz de confirmar o diagnóstico e pode indicar o tratamento adequado ao paciente antes mesmo do resultado laboratorial”, explica. O teste rápido, nesses casos, seria também uma medida complementar para o diagnóstico clínico, realizado pelo médico.
O projeto para desenvolvimento do kit de teste rápido para diagnóstico da dengue conta com financiamento daFundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
Tecnologia abrangente
Segundo Alzira Batista Cecílio, a partir do desenvolvimento da plataforma tecnológica do teste rápido para dengue, futuramente há a possibilidade de se utilizar a mesma base para a elaboração de kits que contemplem outras doenças de saúde pública, como o rotavirus, herpesvirus e parasitas que serão definidos após a validação da tecnologia.
A doença
Segundo informações do Ministério da Saúde, a dengue é um dos principais problemas de saúde pública do mundo. Normalmente, os sintomas da doença se manifestam após três dias da picada do mosquito. Os indícios de infecção podem apontar duas formas de dengue: clássica e hemorrágica, sendo que a segunda pode levar a morte no período de 24 horas.
Os sintomas da dengue clássica são caracterizados por febre alta com início súbito; forte dor de cabeça; dor atrás dos olhos - que piora com o movimento dos mesmos; perda do paladar e apetite; náuseas e vômitos; tonturas; extremo cansaço; moleza e dor no corpo; muitas dores nos ossos e articulações. Além de manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, principalmente no tórax e membros superiores.
Em princípio, a dengue hemorrágica apresenta os mesmos sintomas que a clássica, no entanto, após a febre, começam a manifestar os sinais mais graves, distinguidos pelas dores abdominais fortes e contínuas; vômitos persistentes; pele pálida, fria e úmida; sangramento pelo nariz, boca e gengivas; manchas vermelhas na pele; sonolência; agitação e confusão mental; sede excessiva e boca seca; pulso rápido e fraco; dificuldade respiratória e perda de consciência.
Ag. Minas