O aumento do percentual de etanol anidro na gasolina, de 25% para 27%, pode causar problemas em veículos a gasolina produzidos antes da década de 90. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, Edson Orikassa, esses carros podem apresentar alterações em itens feitos com borracha, como mangueiras de combustível, além de plásticos e metais, que tendem a oxidar com o etanol.
“Nos últimos anos, houve uma melhora grande desses materiais, mas pode ser que os veículos antigos ainda estejam sem tecnologia para se proteger desse ataque”, disse Orikassa. Nesses casos, a recomendação é que, até a conclusão de todos os testes, seja usada a gasolina do tipo premium, que não terá aumento do percentual de álcool, mas é mais cara – o litro custa cerca de R$ 4.
Para o professor de engenharia automotiva da Universidade de Brasília (UnB) Alessandro Oliveira, tanto os carros com carburador quanto os primeiros fabricados com injeção eletrônica podem sofrer as consequências do aumento do etanol na gasolina. “Essa frota já é bastante reduzida, mas tais veículos podem sofrer um pouco mais com essa gasolina com mais álcool, inclusive em termos de consumo de combustível”, explica.
Outro problema são os carros importados com motor a gasolina. Segundo Oliveira, a maior parte dos veículos modernos é capaz de se adaptar à nova mistura, mas ainda não há estudos que comprovem o efeito da mudança na durabilidade desses carros. “É sempre uma dúvida em termos de durabilidade: sabemos que alguns veículos já sentem alguns problemas com a gasolina com 25% de etanol”, disse Oliveira. Para ele, a gasolina premium também deve ser usada nesses casos.
Nos carros com motor flex, que representaram cerca de 88% dos veículos novos licenciados no ano passado, a mudança não terá nenhum impacto. “O carro flex está totalmente adaptado para esse tipo de aumento, tanto que se pode colocar apenas álcool que não tem problema”, afirmou Orikassa. No entanto, pode haver um pequeno aumento no consumo de combustível, mas será pouco sentido pelos motoristas. “Às vezes, até o aumento de temperatura e a umidade em um dia provocam aumento de consumo”, explicou Oliveira.
Na quarta-feira (4), ao anunciar a medida, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, disse que os testes de durabilidade, no caso de carros movidos exclusivamente a gasolina, ainda estão sendo feitos pela entidade e devem ser concluídos no fim do mês. “Por isso, insistimos bastante para que a gasolina premium não sofresse nenhuma alteração em sua formulação, de forma que o consumidor tenha uma alternativa de abastecimento para os veículos movidos exclusivamente a gasolina.”
A nova mistura, que passa a valer a partir de 16 de março, vai ser aplicada à gasolina comum e à aditivada. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, os resultados de testes feitos pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras não mostraram problemas técnicos para os veículos com o aumento da mistura.
Ag. Brasil