REFORMA PSIQUIÁTRICA, LUTA ANTIMANICOMIAL E AS NOVAS ABORDAGENS DE TRATAMENTO AO SOFRIMENTO MENTAL
Dados recentes da OMS estimam que cerca de 23 milhões de Brasileiros apresentam algum sintoma de transtorno mental e destes 05 milhões sofrem com algum tipo de transtorno mental grave e persistente.
Por muito tempo o adoecimento mental no Brasil, e no mundo foi negligenciado e tratado com condições precárias, a realidade cruel por trás dos grandes hospitais psiquiátricos começou a ser desmantelada na década de 60 quando o psiquiatra Frances Franco Basaglia começou a denunciar a grande mídia os abusos sofridos pelos pacientes durante o tratamento nestas instituições, dando início a uma série de ações e eventos em defesa dos direitos do paciente com sofrimento mental, que resultou no movimento de reforma psiquiátrica italiano, o qual foi e ainda é referencia aos serviços e tratamentos de saúde mental em todo o mundo que visam tratar de forma inclusiva, priorizando o respeito à vida, e ao sujeito com sofrimento mental.
No final da década de 70, movido pela luta de romper com os modelos arcaicos de tratamento, Basaglia esteve no Brasil conhecendo o sistema manicomial da época, inspirando profissionais com seus discursos, e sua forma revolucionaria de tratar o sujeito com sofrimento mental. A época o psiquiatra esteve nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, tendo neste ultimo se deparado com o Hospital Colônia em Barbacena, com o qual Basaglia ficou tão horrorizado que chegou a comparar com um “campo de concentração Nazista” (Sociedade Mineira de Psicologia, 1982 apud Oliveira, 2011). A partir dessa influencia o movimento antimanicomial no Brasil ganhou força com o lema “por uma sociedade sem manicômios”. Surgindo assim Serviços substitutivos que objetivam tratar o individuo que possa apresentar sofrimento mental, de forma humana e em liberdade.
Em Minas Gerais, atualmente, prioriza-se o tratamento aos transtornos mentais através da Rede de Atenção Psicossocial, a RAPS, que seguindo a constituição optima da OMS propõe a integração dos serviços de saúde mental com os cuidados de saúde gerais, buscando capacitar os prestadores de serviço de saúde de todos os níveis: primários, especializados e hospitalares, para a prestação adequada de assistência, de forma inclusiva e efetiva a todos os públicos. A cada dia se valoriza mais o tratamento em liberdade, e como resultado destaca-se o fechamento de hospitais psiquiátricos e o incentivo do estado em priorizar os tratamentos de saúde mental em hospitais gerais. É notório o protagonismo dos serviços substitutivos e sua eficácia diante do tratamento e acompanhamento deste público, tais como os centros de atenção a saúde mental, os CAPS.
Em 2020 a Santa Casa de Bom Despacho passou a integrar a RAPS, enquanto referência para as microrregiões de Bom Despacho, Santo Antonio do Monte e Formiga, habilitando seis leitos de internação hospitalar de curta permanência, para atenção a pessoas com sofrimento ou transtorno mental e em condições de saúde devido ao uso de álcool, crack e outras drogas. Garantindo a continuidade de cuidado em situações de crise, especialmente em casos de abstinência de álcool e outras drogas, bem como comorbidades psiquiátricas de acordo com os pressupostos da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. Priorizando a humanização do atendimento, os leitos de saúde mental contam com gestão qualificada composta por médicos, psicólogas, enfermagem e assistente social, que em conjunto com o paciente e suas famílias visam promover a estabilidade clinica do paciente, à reintegração destes aos serviços de saúde dos municípios de origem, e a garantia de direitos.
No último dia 21 de maio de 2021 foi realizada na Santa Casa de Bom Despacho uma roda de conversa para discussão do tema e foi passado o documentário “Em Nome da Razão”. Participaram do evento médicos, representantes do CAPS de Bom Despacho, Enfermeiros, Psicólogos e estudantes de psicologia.
Santa Casa de Bom Despacho, há mais de 118 anos cuidando cada vez melhor de você!
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